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"A FESTA DE SÃO JOÃO", UM ARTIGO DE GILBERTO BRITO

“A festa de São João”, um artigo de Gilberto Brito

o São João é do povo e é uma festa que celebra, além da fertilidade, purificação ou transformação, a alegria popular.




Em um 24 de junho nasceu João, filho de Isabel, que fez fogueira defronte à casa, noticiando o acontecido à prima Maria, seis meses depois mãe de Jesus, residente “no outro lado do vale”.
O semestre entre os nascimentos fez uma demarcação no calendário cristão: de dezembro a junho, devotado a Jesus. Entre junho à dezembro, à São João. Esta divisão decorreu do esforço da igreja, desde o século XIV, em doutrinar os europeus que estavam ligados aos rituais pré-cristãos, a exemplo de cultos solares e lunares, associados à agricultura.
Dentre os solares, tinha-se a fogueira no solstício de verão (dia com maior duração do sol – 21 de junho). O fogo dizia a vitória da luz e do calor sobre a escuridão e o frio.
Visando dar novo significado às práticas pagãs relacionadas ao fogo, que aos olhos dos religiosos simbolizava a liberação sexual, a igreja passa a ter as fogueiras de solstício como fogos eclesiásticos, sinonimos de purificação.
Enquanto em outros cantos da Europa a festa do fogo não tinha vinculação com São João, no Brasil, graças aos jesuítas, a fogueira era de São João. As luzes dos fogos de artifício e da fogueira impressionavam e chamavam a atenção dos nativos, aproximando índios e religiosos.
Nas áreas urbanas a festa se consagrava, ligando principais eixos da vida social: rua e igreja. As ruas e casas eram enfeitadas e as igrejas reuniam o público. Por conta de influências pagãs, caracterizadas pelas adivinhações, batismos e casamentos de fogueira, a festa de São João era palco de tensões sociais, pois o caráter profano da festa feria as autoridades.
Para conter isto, no final do século XVIII o arcebispo da Bahia, editando o Concílio de Trento, firmou que durante as noites juninas as igrejas deveriam ser bem iluminadas para evitar “escândalos”.
Chegando a corte portuguesa em 1808, retomaram as celebrações urbanas e religiosas. Assim, o São João cresceu! Portugal tinha grande reputação pela beleza de seus fogos e a cultura era rica em hábitos festivos. É por tal razão que a quadrilha é uma herança portuguesa e das mais importantes tradições juninas.
Em declínio os hábitos da realeza, no início do período republicano essa dança passou a ocorrer em localidades menores, cujos protagonistas eram os caipiras. É aí que os traços, as roupas e o estilo do homem interiorano, estereotipado pela urbanidade, assumem lugar central na festa de São João, que se torna a mais brasileira das festas.
O festejo, cuja origem é um rito pagão em homenagem à fertilidade da terra e aos poucos se transforma em uma celebração católica, vai incorporando variedades da nossa miscigenação. No Pantanal sul-mato-grossense, ao invés da quadrilha, tem-se o cururu, de origem guarani, e a água assume o lugar do fogo. No Piauí e Goiás, até 1912, o casamento na fogueira de São João era considerado um sacramento.
Enfim, o São João é do povo e é uma festa que celebra, além da fertilidade, purificação ou transformação, a alegria popular.
* Gilberto Brito, natural de Paramirim, ex-deputado e delegado da Polícia Civil da Bahia. Artigo escrito ao Bahia Notícias.

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